Já disse num post anterior que o interior da França é muito lindo (http://marcarrinho.blogspot.com.br/2013/01/viajando-pelo-interior-da-franca.html)!
Cada região tem uma particularidade: castelos, vinicultura, culinaria...
Aqui na Provence, tem um pouquinho de tudo: paisagens maravilhosas, vinhos deliciosos, colorido surreal, produtos frescos e a as flores! A lavanda...ah...a lavanda!
A região da Provence fica a sudeste da França, entre o rio Ródano e o Mediterrâneo.
É uma região pequena mas com tanta coisa linda para ver, que não vale a pena conhecê-la apenas de passagem estando em Marselha ou Nice por exemplo. Mesmo numa viagem que inclua outros locais, é interessante que se fique na região pelo menos dois dias.
Voce pode ficar hospedado em Aix-en-Provence, praticamente vizinha a Marselha, cidade natal de Cèzanne, famosa por suas fontes e pela Cours Mirabeau com seus casarões do século 17 e 18.
Outra opção seria ficar em Arles (60 Km de Aix-en-Provence), onde existe um anfiteatro romano inteiro no meio da cidade.
Eu optei por ficar em Avignon, cidade importante, que já foi morada de papas e que ficava estrategicamente localizada , já que eu estava vindo de Carcassone (e de Rocamadour e Paris) e ia depois para Nice.
Fiquei duas noites no hotel de L'Horloge (1, rue Fèlicien David) na esquina da praça de mesmo nome, um ponto bem central da cidade, cheia de restaurantes e lojas. O hotel tinha quartos confortáveis e um café da manhã delicioso.
Depois que cheguei na região, percebi que mesmo os dois dias programados seria pouco tempo! Já dá para ter uma ídéia da região mas na verdade a Provence deve ser o tema de uma viagem por si só. Já está na minha "wish list" - ir para a Provence por um tempo mais longo e deixar a vida me levar...
Bom, sem devaneios, com dois dias na região, minha idéia foi conhecer a cidade de Avignon e a região do Luberon onde a Provence se mostra em todo o seu esplendor.
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Representação esquemática da região da Provence - a região de Luberon está mostrada à direita de Avignon. |
Avignon é uma cidade murada, situada na margem do rio Ródano. É uma cidade antiga, que cresceu por ser um entrocamento de rotas comerciais. Quando olhamos a cidade velha, o que domina a paisagem é uma construção enorme: o Palácio dos Papas, sua maior atração turística.
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Mapa das atrações turísticas de Avignon. O Palacio dos Papas está em laranja na parte mais superior. |
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O Palácio dos Papas e parte da muralha da cidade vista a partir do rio Ródano |
No ano de 1309, conflitos entre facções da Igreja Católica em Roma, fizeram com que a corte papal fosse transferida para Avignon. Para acomodá-la, foi construido um palácio, depois reformado e ampliado ao longo dos 70 anos em que os papas moraram lá, com muito luxo e riqueza (ao todo 7 papas moraram em Avignon).
Hoje é possível visitá-lo e ter uma idéia de toda a opulência que ele presenciou.
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Palacio dos Papas - parte externa |
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Palacio dos Papas - parte interna |
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Praça em frente ao Palacio - concentração turística. |
Bem próximo ao Palácio dos Papas (dá para ir a pé), está outro cartão postal de Avignon, a Ponte Saint-Bénézet ou Ponte D'Avignon. A ponte foi contruída inicialmente no seculo 12, segundo a lenda a partir do sonho de Bénézet, um pastor, que disse ter ouvido a voz de Deus lhe pedindo para construir a ponte. Para convencer a população da cidade ele inexplicavelmente levantou uma pedra pesadissima sozinho e esse milagre fez com que a população se mobilizasse para o projeto. Foi inicialmente uma ponte estreita e de madeira, destruida durante o período das cruzadas. A ponte foi reconstruida em pedra, com 22 arcos, e com uma capela para Saint Nicolas e depois uma outra para Saint Bénézet (pois é, o pastor virou padre e depois santo!). O problema era a força das águas do rio Ródano que por várias vezes em inundações destruiu a ponte, a recontrução era difícil e custosa, até que no sec 17 ela foi abandonada, restando hoje apenas 4 dos 22 arcos. Fica estranho de ver, pois é uma ponte que liga nada, mas é bonita, pode ser vista através de um passeio de barco pelo rio ou andando a pé, o que dá uma visão muito legal das muralhas e do Palacio dos Papas. O passeio de barco aliás é bem bonito, a margem oposta do rio mostra uma das ilhas do Ródano com parques e locais para piqueniques muito lindos.
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Ponte Saint-Bénézet. Dá para ver a Capela de Saint-Nicolas e Saint Bénézet entre o segundo e terceiro arcos. |
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Ponte Saint-Bénezet ou Ponte d'Avignon |
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Ponto de embarque do barco que faz passeios pelo rio Ródano com a visão da ilha na margem esquerda. |
Essa ponte é muito conhecida também por conta de uma canção infantil - Sur le pont d'Avignon - que nós brasileiros não conhecemos, mas toda criança européia conhece e quer ver a ponte quando vai a Avignon!
Mas eu acho que o coração pulsante dessa cidade é a Place de L'Horloge (Praça do Relógio), onde estão vários restaurantes, lojas de souveniers e lojas de grife, a prefeitura, num prédio lindo e por sorte, o meu hotel!
Local ótimo para almoçar ou jantar, não tem muita dica, é escolher o restaurante com o cardápio que mais lhe apetece, ou onde voce acha mais simpático. É super gostoso sentar ao ar livre e apreciar o movimento grande que tem por ali.
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A praça vista do meu quarto de hotel. O prédio à esquerda é a Prefeitura da cidade. |
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Place de L'Horloge |
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Place de L'Horloge |
Além dos restaurantes, na praça existem sorveterias - o sorvete da Regal Glace, próxima à loja da Hermés (ai que maravilha!) é delicioso. As patisseries também são uma atração a parte. Existem em Avignon vários artisans (artesãos) de chocolates e doces. Além do sabor, as vitrines ficam lindas!
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Tomando um sorvete da Regal Glace na place de L'Horloge - delícia! |
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Vitrine de Pascoa da patisserie e salon de thé da 1, rue Republique na ponta da praça do relógio (próxima a sorveteria que descrevi acima). Tudo que voce vê na foto é chocolate!!! |
Na praça existe ainda um carrossel lindo todo decorado, datado de 1900 e até um senhor com um realejo eu encontrei! Voltei a ser criança por uma tarde!
Segundo dia na cidade, dia de sair e conhecer o Luberon, região próxima, de uma beleza natural estonteante. São planícies verdes pelas oliveiras, árvores frutíferas e flores e de repente, surgem colinas cálcareas ou avermelhadas, fazendo um contraste incrível com o verde!
Comecei o dia conhecendo Le Baux en Provence. É um maciço rochoso, sozinho no meio da planície, com as ruínas de um castelo no topo. Voce vai de carro até um certo ponto e depois tem que subir a pé, encontrando as ruínas do castelo circundadas por ruelas e casinhas simpáticas, todas abrigando lojinhas de artesanato e comida. A vista é realmente linda, vale uma visita, mas rápida! Ah, uma curiosidade: aqui se descobriu um mineral que levou o nome da região - a bauxita! Adoro saber essas curiosidades!
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Vista do maciço rochoso que é Le Baux. Esse painel de vidro marca a entrada desse sítio turístico. Tem que estacionar aqui e subir o restinho a pé. |
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Vista da planície ao redor já estando lá em cima em Le Baux |
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Ruazinhas simpáticas de le Baux e seu comércio. Praticamente ninguém mora no local. |
Saindo de Le Baux fui em direção ao Luberon, e o que chama atenção na paisagem em meio ao pomares, vinhedos e olivais é a pedra. Entre a vegetação avistamos casas, muros, feitos de pedra calcárea cortada fina que surgem esporadicamente até chegarmos a Gordes, uma cidadezinha encravada na pedra e toda construída com ela. A cor das casas se confunde com a cor das pedras. Próximo à Gordes, observamos construçoes de pedra em formato peculiar, os bories, com diversas funções: casa, cilo, estábulo...
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Detalhe das casas de pedra de Gordes |
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Vista da cidade de Gordes
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Vista da paisagem do Luberon chegando a Gordes |
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Vista da paisagem chegando a Gordes |
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Village des Bories - casas de pedra típicas que parecem um iglu |
A cidade é pequena, mas lindinha! Na parte mais superior existe um castelo que funciona como prefeitura e também museu. Os produtos locais, mel, azeite, frutas, lavanda, são vendidos nas feiras ao ar livre.
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Gordes |
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Gordes |
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Gordes |
Muito próximo à cidade de Gordes fica um dos locais mais lindos para apreciar os campos de lavanda: a Abadia de Senanque. Entre a cidade e a abadia, são 6 Km por uma estradinha estreita e tortuosa. Na estrada a gente consegue ver a abadia de cima o que já aumenta a expectativa da chegada. Eu estava viajando no início da primavera e já sabia que as lavandas não estariam floridas e em todo seu esplendor; mesmo assim, valeu a pena!
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Os campos de lavanda vistos do alto, na estrada |
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Abadia de Sénanque |
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Abadia de Senanque |
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Abadia de Senanque |
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E as lavandas estavam só começando a florir... |
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Abadia de Senanque |
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Abadia de Senanque e seus campos de lavanda |
Saindo da regiao da Abadia, a uns 8 Km de distância, a paisagem muda radicalmente: do branco calcáreo para tons avermelhados e alaranjados quando vamos chegando à região de Roussillon. Essa região é de onde se extrai o ocre um pigmento natural que por conter ferro apresenta uma gama de cores do amarelo, laranja, vermelho até o violeta. O visual contrastando com o verde é muito lindo!
Você pode fazer trilhas (longa ou curta) entre os paredões avermelhados, com explicações sobre o pigmento, seu uso e extração.
O interessante é que da mesma maneira que a cidade de Gordes era toda clara, combinando com as pedras calcáreas, a cidade de Roussillon tem as casas pintadas de uma cor avermelhada, que se confunde com a natureza.
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As montanhas de Roussillon e sua cor maravilhosa |
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As trilhas ajudam a ver mais de perto e entender sobre o pigmento sua extração e utilização. |
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O contraste com o verde é lindo! |
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As casas da cidade mimetizam a cor das montanhas. |
Todos esses passeios foram regados ao seu vinho característico, o rosé, que combina maravilhosamente com o frescor da região e da sua culinária!
E assim terminei minha passagem por essa região fantástica, pois minha viagem prosseguiria para Nice e seu litoral.
Fiquei com uma lista enorme de locais que eu quero voltar para conhecer, ficar mais tempo, apreciar sem pressa: Cassis e as Calanques, Gorges du Verdon, Apt, Sault, Pont du Gard, Saint Remy, Nimes, Menerbes... Olha quanta coisa! Mas continuei a viagem feliz e o cheiro da lavanda me acompanhou mesmo depois da volta ao Brasil.
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