domingo, 19 de abril de 2015

Voltando à Idade Média









Se você quiser voltar à Idade Média, lembrar das aulas de história, é lógico que você pode ver fragmentos dessa época em praticamente toda a Europa. Mas se você quer uma verdadeira imersão, o pacote completo e o mais importante totalmente restaurado, vá à Carcassone!
Cartão postal com vista panorâmica da cidade de Carcassone.

É uma cidade no sul da França, na  região do Languedoc, bem próxima da fronteira com a Espanha (Barcelona está a 305 Km). Essa região sempre foi estratégica, como cruzamento de rotas e já foi ocupada por celtas, romanos e visigodos, até atingir seu ápice durante a Idade Média, com o povoado tendo um castelo e uma muralha dupla nos séculos IX e X.
Depois de uma época de muitas histórias, de cercos e batalhas, a cidade entrou em decadência e foi totalmente abandonada até o século XIX quando foi redescoberta por turistas ingleses. A partir dessa redescoberta, começou um enorme processo de restauração e revitalização liderado pelo arquiteto Eugéne Viollet-le-Duc, usando o máximo de material do próprio lugar que pôde ser aproveitado, sendo o mais fiel possível ao aspecto do século X, até transformar Carcassone na jóia que é hoje, patrimônio da UNESCO desde 1997.
Quando nos aproximamos vemos a cidade ao longe, já que ela fica numa colina a 500m de altitude, possui uma muralha dupla com 52 torres, uma basílica gótica de Saint-Nazaire e Saint-Celse e um castelo - Chateau Comtal.

É possível conhecer a cidade com um passeio de um dia, mas como normalmente incluímos essa visita dentro de um roteiro maior de viagem pela França ou sul da Espanha, o mais comum é se programar um pernoite, o que não deixa de ser interessante. Ver La Cité (como os locais chamam a cidade murada) iluminada e mais tranquila, sem tantos turistas vale a pena. Durante o dia a quantidade de gente (turistas) é muito grande!
É sempre preferível ficar alojado na cidade murada, embora se possa ficar na Bastide Saint-Louis, a cidade que fica no entorno.
Dormir na cidade murada exige uma preparação prévia, principalmente se você estiver viajando de carro. Explico: não se pode entrar de carro na cidade. Então o carro tem que ficar em estacionamentos ao longo da muralha, pagos, mas sem qualquer infraestrutura. Um funcionário do hotel encontra com voce nesse local, coloca suas malas num carro do hotel, autorizado a entrar e te dá um mapinha para lhe explicar como atravessar a pé as muralhas e chegar no hotel. É pertinho então não tem problema, a não ser que ocorra o que aconteceu comigo: estava chovendo! Odeio andar na lama! Se voce estiver de trem, vai descer na cidade do entorno e tem que ir até a muralha encontrar o funcionario do hotel também.
Eu fiquei no Le Donjon da rede Best Western - 2, rue Comte Roger (www.hotel-donjon.fr). As instalações são boas, modernas e confortáveis. Atenção que o hotel tem tres prédios distintos na cidade, mas só há um local para check in. Eles vão explicar e além disso, os prédios são todos muito próximos, pois a cidade é pequena.

Quando o funcionário do hotel vai com suas malas e voce atravessa as muralhas, a brincadeira começa! Primeiro ver o espaço entre as muralhas, os portões e torres; depois as ruas estreitas e com muita gente, as casas de pedra, pracinhas com poço de água e mesinhas dos restaurantes, além é claro de uma catedral enorme e um castelo lindo! As fotos explicam melhor!







Os restaurantes tem muita comida tradicional e regional - que tal experimentar um cassoulet?
Vale a pena incluir Carcassone no seu roteiro!

domingo, 12 de abril de 2015

Envolvida pelos aromas e cores da Provence

Já disse num post anterior que o interior da França é muito lindo (http://marcarrinho.blogspot.com.br/2013/01/viajando-pelo-interior-da-franca.html)!
Cada região tem uma particularidade: castelos, vinicultura, culinaria...
Aqui na Provence, tem um pouquinho de tudo: paisagens maravilhosas, vinhos deliciosos, colorido surreal, produtos frescos e a as flores! A lavanda...ah...a lavanda!
Só um aperitivo do que vamos ver nesse post! Um mix dos cartões postais que eu trouxe.
A região da Provence fica a sudeste da França, entre o rio Ródano e o Mediterrâneo.
É uma região pequena mas com tanta coisa linda para ver, que não vale a pena conhecê-la apenas de passagem estando em Marselha ou Nice por exemplo. Mesmo numa viagem que inclua outros locais, é interessante que se fique na região pelo menos dois dias.
Voce pode ficar hospedado em Aix-en-Provence, praticamente vizinha a Marselha, cidade natal de Cèzanne, famosa por suas fontes e pela Cours Mirabeau com seus casarões do século 17 e 18.
Aix-en-Provence

Aix-en-Provence
Outra opção seria ficar em Arles (60 Km de Aix-en-Provence), onde existe um anfiteatro romano inteiro no meio da cidade.
Eu optei por ficar em Avignon, cidade importante, que já foi morada de papas e que ficava estrategicamente localizada , já que eu estava vindo de Carcassone (e de Rocamadour e Paris) e ia depois para Nice.
Fiquei duas noites no hotel de L'Horloge (1, rue Fèlicien David) na esquina da praça de mesmo nome, um ponto bem central da cidade, cheia de restaurantes e lojas. O hotel tinha quartos confortáveis e um café da manhã delicioso.
Depois que cheguei na região, percebi que mesmo os dois dias programados seria pouco tempo! Já dá para ter uma ídéia da região mas na verdade a Provence deve ser o tema de uma viagem por si só. Já está na minha "wish list" - ir para a Provence por um tempo mais longo e deixar a vida me levar...
Bom, sem devaneios, com dois dias na região, minha idéia foi conhecer a cidade de Avignon e a região do Luberon onde a Provence se mostra em todo o seu esplendor.
Representação esquemática da região da Provence - a região de Luberon está mostrada à direita de Avignon.
Avignon é uma cidade murada, situada na margem do rio Ródano. É uma cidade antiga, que cresceu por ser um entrocamento de rotas comerciais. Quando olhamos a cidade velha, o que domina a paisagem é uma construção enorme: o Palácio dos Papas, sua maior atração turística.
Mapa das atrações turísticas de Avignon. O Palacio dos Papas está em laranja na parte mais superior.
O Palácio dos Papas e parte da muralha da cidade vista a partir do rio Ródano
No ano de 1309, conflitos entre facções da Igreja Católica em Roma, fizeram com que a corte papal fosse transferida para Avignon. Para acomodá-la, foi construido um palácio, depois reformado e ampliado ao longo dos 70 anos em que os papas moraram lá, com muito luxo e riqueza (ao todo 7 papas moraram em Avignon).
Hoje é possível visitá-lo e ter uma idéia de toda a opulência que ele presenciou.
Palacio dos Papas - parte externa


Palacio dos Papas - parte interna
Praça em frente ao Palacio - concentração turística.
Bem próximo ao Palácio dos Papas (dá para ir a pé), está outro cartão postal de Avignon, a Ponte Saint-Bénézet ou Ponte D'Avignon. A ponte foi contruída inicialmente no seculo 12, segundo a lenda a partir do sonho de Bénézet, um pastor, que disse ter ouvido a voz de Deus lhe pedindo para construir a ponte. Para convencer a população da cidade ele inexplicavelmente levantou uma pedra pesadissima sozinho e esse milagre fez com que a população se mobilizasse para o projeto. Foi inicialmente uma ponte estreita e de madeira, destruida durante o período das cruzadas. A ponte foi reconstruida em pedra, com 22 arcos, e com uma capela para Saint Nicolas e depois uma outra para Saint Bénézet (pois é, o pastor virou padre e depois santo!). O problema era a força das águas do rio Ródano que por várias vezes em inundações destruiu a ponte, a recontrução era difícil e custosa, até que no sec 17 ela foi abandonada, restando hoje apenas 4 dos 22 arcos. Fica estranho de ver, pois é uma ponte que liga nada, mas é bonita, pode ser vista através de um passeio de barco pelo rio ou andando a pé, o que dá uma visão muito legal das muralhas e do Palacio dos Papas. O passeio de barco aliás é bem bonito, a margem oposta do rio mostra uma das ilhas do Ródano com parques e locais para piqueniques muito lindos.
Ponte Saint-Bénézet. Dá para ver a Capela de Saint-Nicolas e Saint Bénézet entre o segundo e terceiro arcos.

Ponte Saint-Bénezet ou Ponte d'Avignon

Ponto de embarque do barco que faz passeios pelo rio Ródano com a visão da ilha na margem esquerda.
Essa ponte é muito conhecida também por conta de uma canção infantil - Sur le pont d'Avignon - que nós brasileiros não conhecemos, mas toda criança européia conhece e quer ver a ponte quando vai a Avignon!
Mas eu acho que o coração pulsante dessa cidade é a Place de L'Horloge (Praça do Relógio), onde estão vários restaurantes, lojas de souveniers e lojas de grife, a prefeitura, num prédio lindo e por sorte, o meu hotel!
Local ótimo para almoçar ou jantar, não tem muita dica, é escolher o restaurante com o cardápio que mais lhe apetece, ou onde voce acha mais simpático. É super gostoso sentar ao ar livre e apreciar o movimento grande que tem por ali.
A praça vista do meu quarto de hotel. O prédio à esquerda é a Prefeitura da cidade.

Place de L'Horloge

Place de L'Horloge
Além dos restaurantes, na praça existem sorveterias - o sorvete da Regal Glace, próxima à loja da Hermés (ai que maravilha!) é delicioso. As patisseries também são uma atração a parte. Existem em Avignon vários artisans (artesãos) de chocolates e doces. Além do sabor, as vitrines ficam lindas!
Tomando um sorvete da Regal Glace na place de L'Horloge - delícia!

Vitrine de Pascoa da patisserie e salon de thé da 1, rue Republique na ponta da praça do relógio (próxima a sorveteria que descrevi acima). Tudo que voce vê na foto é chocolate!!!
Na praça existe ainda um carrossel lindo todo decorado, datado de 1900 e até um senhor com um realejo eu encontrei! Voltei a ser criança por uma tarde!

Segundo dia na cidade, dia de sair e conhecer o Luberon, região próxima, de uma beleza natural estonteante. São planícies verdes pelas oliveiras, árvores frutíferas e flores e de repente, surgem colinas cálcareas ou avermelhadas, fazendo um contraste incrível com o verde!
Comecei o dia conhecendo Le Baux en Provence. É um maciço rochoso, sozinho no meio da planície, com as ruínas de um castelo no topo. Voce vai de carro até um certo ponto e depois tem que subir a pé, encontrando as ruínas do castelo circundadas por ruelas e casinhas simpáticas, todas abrigando lojinhas de artesanato e comida. A vista é realmente linda, vale uma visita, mas rápida! Ah, uma curiosidade: aqui se descobriu um mineral que levou o nome da região - a bauxita! Adoro saber essas curiosidades!
Vista do maciço rochoso que é Le Baux. Esse painel de vidro marca a entrada desse sítio turístico. Tem que estacionar aqui e subir o restinho a pé.



Vista da planície ao redor já estando lá em cima em Le Baux

Ruazinhas simpáticas de le Baux e seu comércio. Praticamente ninguém mora no local.
Saindo de Le Baux fui em direção ao Luberon, e o que chama atenção na paisagem em meio ao pomares, vinhedos e olivais é a pedra. Entre a vegetação avistamos casas, muros, feitos de pedra calcárea cortada fina que surgem esporadicamente até chegarmos a Gordes, uma cidadezinha encravada na pedra e toda construída com ela. A cor das casas se confunde com a cor das pedras. Próximo à Gordes, observamos construçoes de pedra em formato peculiar, os bories, com diversas funções: casa, cilo, estábulo...
Detalhe das casas de pedra de Gordes

Vista da cidade de Gordes


Vista da paisagem do Luberon chegando a Gordes

Vista da paisagem chegando a Gordes

Village des Bories - casas de pedra típicas que parecem um iglu
A cidade é pequena, mas lindinha! Na parte mais superior existe um castelo que funciona como prefeitura e também museu. Os produtos locais, mel, azeite, frutas, lavanda, são vendidos nas feiras ao ar livre.

Gordes

Gordes

Gordes
Muito próximo à cidade de Gordes fica um dos locais mais lindos para apreciar os campos de lavanda: a Abadia de Senanque. Entre a cidade e a abadia, são 6 Km por uma estradinha estreita e tortuosa. Na estrada a gente consegue ver a abadia de cima o que já aumenta a expectativa da chegada. Eu estava viajando no início da primavera e já sabia que as lavandas não estariam floridas e em todo seu esplendor; mesmo assim, valeu a pena!
Os campos de lavanda vistos do alto, na estrada

Abadia de Sénanque

Abadia de Senanque

Abadia de Senanque

E as lavandas estavam só começando a florir...


Abadia de Senanque
Abadia de Senanque e seus campos de lavanda
Saindo da regiao da Abadia, a uns 8 Km de distância, a paisagem muda radicalmente: do branco calcáreo para tons avermelhados e alaranjados quando vamos chegando à região de Roussillon. Essa região é de onde se extrai o ocre um pigmento natural que por conter ferro apresenta uma gama de cores do amarelo, laranja, vermelho até o violeta. O visual contrastando com o verde é muito lindo!
Você pode fazer trilhas (longa ou curta) entre os paredões avermelhados, com explicações sobre o pigmento, seu uso e extração.
O interessante é que da mesma maneira que a cidade de Gordes era toda clara, combinando com as pedras calcáreas, a cidade de Roussillon tem as casas pintadas de uma cor avermelhada, que se confunde com a natureza.
As montanhas de Roussillon e sua cor maravilhosa

As trilhas ajudam a ver mais de perto e entender sobre o pigmento sua extração e utilização.


O contraste com o verde é lindo!




As casas da cidade mimetizam a cor das montanhas.
Todos esses passeios foram regados ao seu vinho característico, o rosé, que combina maravilhosamente com o frescor da região e da sua culinária!

E assim terminei minha passagem por essa região fantástica, pois minha viagem prosseguiria para Nice e seu litoral. 
Fiquei com uma lista enorme de locais que eu quero voltar para conhecer, ficar mais tempo, apreciar sem pressa: Cassis e as Calanques, Gorges du Verdon, Apt, Sault, Pont du Gard, Saint Remy, Nimes, Menerbes... Olha quanta coisa! Mas continuei a viagem feliz e o cheiro da lavanda me acompanhou mesmo depois da volta ao Brasil.